Depois da realização do GP do Canadá, a Fórmula 1 seguia na América do Norte, desta vez indo até a cidade norte-americana de Dallas para mais uma etapa do Mundial, que aconteceria em um novo circuito de rua que não agradou os pilotos devido ao excesso de ondulações acima do tolerável mesmo para um traçado urbano.
No treino classificatório, Ayrton Senna foi um dos destaques com seu Toleman, garantindo a sexta posição no grid. O brasileiro estava convicto de que poderia pontuar no desafiante circuito, que apresentava defeitos no asfalto, e num final de semana marcado por forte calor, acima de 38ºC.
O GP de Fórmula 1 teve, como tradicionalmente ocorreu, provas de categorias preliminares, mas no caso de Dallas isso contribuiu para que o asfalto ficasse ainda mais precário. Antes da prova, boatos começaram a circular de que a corrida não aconteceria porque pedaços da pista estavam se desfazendo no meio do circuito.
Elio de Angelis e Nigel Mansell, pilotos da Lotus, disseram que o asfalto era o pior de todos aqueles que já tinham pilotado na carreira.
Para tentar fugir do forte calor em Dallas, a organização antecipou a largada para às 11h da manhã, mas o horário não agradou os competidores que teriam que chegar por volta das 6h da manhã para o warm up.
O piloto Jacques Laffite, da Williams, se revoltou com o horário e chegou de pijama no circuito como forma de protesto contra a organização. No final, o treino de aquecimento foi cancelado para não prejudicar ainda mais o asfalto.
Na largada, Mansell, que havia feito sua primeira pole position na carreira, pulou na frente, com de Angelis em segundo.
Atrás das duas Lotus estava Derek Warwick seguido por Ayrton Senna, que pulou para quarto após tracionar melhor que Niki Lauda e aproveitar o problema de René Arnoux, que ocupava o quarto no grid mas acabou largando no final do pelotão.
Logo na segunda volta, Ayrton colou na traseira de Warwick e pressionou muito o piloto da Renault, até que, na expectativa de entrar na zona de pódio, rodou e ficou ao contrário na pista, tendo que esperar todos os adversários passarem para poder colocar o seu Toleman na direção correta.
Ayrton teve que ir para os boxes trocar pneus antes de iniciar uma corrida de recuperação. Na frente, uma boa disputa entre Warwick e De Angelis. Warwick tomou a frente na 4ª volta e logo encostou na traseira de Mansell. Na tentativa de tomar a ponta, o piloto da Renault rodou sozinho e atingiu os pneus.
Na sequência, Lauda e Rosberg pressionaram De Angelis e tomaram a terceira e quarta posições, respectivamente. Mansell conseguiu dominar a prova até a 38ª volta, quando perdeu a liderança para Keke Rosberg e, posteriormente, para Prost.
O francês foi mais um dos que viu o muro pela frente, deixando a vitória para o finlandês. Até a 46ª volta, 15 carros já estavam fora da corrida, ou por batidas, ou por rodar na pista de poucos escapes. As adversidades não perdoaram nem os pilotos mais experientes, como Nelson Piquet, Niki Lauda e Alain Prost.
Na tentativa de recuperar posições, Senna começava a se transformar em uma realidade na corrida, mas um toque no muro acabou atrapalhando a sua conquista de chegar entre os seis primeiros novamente. Assim, Ayrton Senna engrossou a lista das quebras em Dallas e parou na 47ª volta.
A corrida foi vencida por Keke Rosberg. René Arnoux, que tinha largado no final do grid, recuperou posições durante as 67 voltas e chegou em segundo. O pódio foi completado por de Angelis.
Na última volta, uma cena marcou o GP. Mansell, que buscava pontuar após sofrer com um toque do pneu traseiro no muro, bateu novamente na última curva do circuito. Em um gesto marcante, o piloto saiu do carro e tentou empurrar sua Lotus até a linha de chegada. No meio do caminho, o britânico desmaiou e ficou com o sexto lugar.
Após a corrida, Ayrton conversou com o engenheiro da equipe, o britânico Pat Symonds. O piloto disse que o muro poderia ter se mexido e por isso teria batido. O que parecia soar como desculpa era a mais pura verdade, segundo o próprio engenheiro.
A história do “muro que se mexeu” é contada por Pat Symonds, engenheiro da Toleman em 1984, ao jornalista Tony Dodgins, autor do livro “Ayrton Senna: All His Races”.
“Era uma prova muito difícil e que tinha um calor absurdo. Ayrton tinha uma sensação mista: ele tinha classificado bem, e o carro parecia estar ok. Mas, logo no início da prova, ele rodou e ficou na contramão, tendo que esperar os adversários passarem para que ele pudesse voltar para a pista.”
E continuou explicando a boa performance de Ayrton até o acidente.
“Ele estava pilotando muito bem e parecia que iria conseguir um resultado impressionante. Então ele bateu no muro, danificando uma roda e quebrou o eixo dianteiro. Depois da corrida, ele estava perturbado e realmente não se conformava de como ele tinha atingido o muro. Estávamos sentados conversando, debatendo, e ele disse: ‘É impossível eu ter batido no muro. O muro se mexeu.’”.
O engenheiro, então, contou como reagiu a essa fala de Ayrton:
“Eu disse brincando. ‘Claro, com certeza ele fez isso’. Eram enormes blocos de concreto, mas ele era tão insistente e eu tinha tanta confiança nele, que eu disse: ‘Ok, nós vamos lá ver isso’. Eu achava que ele estava falando besteira, mas ele precisava ir ver para crer. Então, nós caminhamos até o local onde ele tinha batido no muro e você sabe o quê eu vi?”
Por fim, o mistério seria revelado por Pat Symonds:
“O muro tinha se mexido. Ele era feito de grandes blocos de concreto que os organizadores usaram para delinear o circuito, mas um bloco estava fora do lugar, o que fez o trecho diminuir em alguns milímetros, e estou falando provavelmente de dez milímetros. Eles foram o suficiente para Senna bater no muro e sair da corrida.”.
Surpreso com o que tinha visto – não com o muro que se mexeu, mas com o diferencial de Ayrton Senna – o engenheiro da Toleman concluiu:
“Isso realmente abriu meus olhos. Eu sabia que o cara (Senna) era bom, mas aquilo fez eu realmente perceber que ele era especial. Não apenas pela sua pilotagem, mas pela sua convicção total, sua análise e, em seguida, a conclusão: ‘Eu não posso estar errado, portanto, o muro deve ter se mexido.’ Qualquer outra pessoa diria ‘Besteira, como isso poderia acontecer?’, mas a convicção que ele tinha era impressionante. E ele estava certo”.
Gp de dallas
1º
N. Mansell
2º
E. de Angelis
3º
D. Warwick
4º
R. Arnoux
5º
N. Lauda
6º
Ayrton Senna
7º
A. Prost
8º
K. Rosberg
9º
M. Alboreto
10º
P. Tambay
11º
T. Fabi
12º
N. Piquet
13º
M. Winkelhock
14º
E. Cheever
15º
J. Cecotto
16º
A. de Cesaris
17º
S. Bellof
18º
P. Ghinzani
19º
F. Hesnault
20º
T. Boutsen
21º
R. Patrese
22º
M. Surer
23º
H. Rothengatter
24º
P. Alliot
25º
J. Laffite
26º
J. Palmer
67
voltas
26
carros
17
abandonos
1’45”353
volta mais rápida
1º
tempo Ensolarado
Pódio
1º
K. Rosberg
2º
R. Arnoux
3º
E. de Angelis
3º
Posição de final
9º
posição no campeonato após a prova
6º
posição de largada
4
pontos somados no campeonato
1’13”951
melhor volta