Exatamente 32 anos depois, a polêmica ainda continua. O GP do Japão de 1989 segue como uma das maiores discussões da história do esporte por conta da batida entre os postulantes ao título daquela temporada: Ayrton Senna e Alain Prost. O brasileiro precisava vencer para chegar à última etapa do ano (Austrália) com chances de título e começou o final de semana com tudo, superando o francês no classificatório com 1s7 de vantagem.

Senna chegou a Suzuka com seis vitórias no ano e 60 pontos válidos pelo campeonato, já que apenas os 11 melhores resultados contavam. Portanto, o piloto francês tinha 76 pontos conquistados com “apenas” quatro triunfos em 1989. Prost teve uma temporada mais regular com seis 2º lugares, enquanto Senna tinha abandonado em cinco corridas. Ele precisava da vitória e ainda torcia por tropeços do companheiro de equipe.

No dia da prova, Senna largou da pole, mas perdeu a primeira colocação para Prost logo na primeira volta. Precisando da vitória para chegar na Austrália com chances de ser campeão, Ayrton tentou ultrapassar o companheiro na volta 47, mas foi tocado pelo francês, que logo saiu do carro.

Senna pediu ajuda dos fiscais de pista para retornar a prova e voltou à pista. “Aquele era o único lugar onde eu poderia fazer uma ultrapassagem. Alguém que não deveria estar lá, simplesmente fechou a porta e causou o choque”, disse Senna depois da corrida em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

Mesmo com a frente de sua McLaren avariada, Ayrton foi ao box para trocar sua asa dianteira e ainda conseguiu retornar à prova na segunda colocação, atrás apenas de Alessandro Nannini. Com uma desvantagem de 5 segundos para o piloto da Benetton, Senna lutou volta após volta e ultrapassou o italiano a três voltas do fim da prova. Senna recebeu a bandeira quadriculada na volta 53 e se emocionou muito no carro: o título seria decidido na última prova.

Os cartolas da Fórmula 1, no entanto, ratificaram a punição ao brasileiro, que acabou nem subindo ao pódio. Com isso, o francês foi declarado campeão em uma manobra do seu compatriota Jean-Marie Balestre, presidente da FIA na época.

Segundo o artigo 56 do código disciplinar da F-1 em 1989, caso um carro ficasse parado no meio da pista, os comissários poderiam removê-lo para um local seguro e, se o piloto conseguisse fazer o motor voltar a funcionar (como Senna), o piloto poderia voltar a prova. A irregularidade apontada foi justamente o corte da chicane por Senna – após a batida, os carros de Senna e Prost ficaram posicionados fora do traçado e, como o brasileiro não voltou para a pista no mesmo ponto onde saiu, foi desclassificado.

A decisão, claro, gerou bastante polêmica: afinal, para não “cortar a chicane”, o brasileiro teria que vir no sentido contrário do traçado. Além disso, era evidente que não houve vantagem técnica no “corte”, já que Senna perdeu muito tempo com a batida. Nos dez anos anteriores à temporada de 1989, nenhuma das 26 desclassificações de pilotos ocorridas foi por erro de trajeto ou percurso irregular.

Alain Prost ficou assim com o título da temporada em sua despedida da McLaren. Uma temporada que não precisava terminar ali, mas terminou. Mas em 1990, Senna daria o troco vencendo o campeonato – e de uma maneira que seria, de certa forma, a redenção por sua injusta punição no ano anterior.