* Por Rafael Lopes

Mais do que uma homenagem, uma celebração à carreira do maior piloto da Fórmula 1 em todos os tempos. Milhares de fãs passaram pelo Autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Imola, no norte da Itália, para relembrar os feitos e celebrar a vida do tricampeão Ayrton Senna. Foram cinco dias de muitas emoções e homenagens no evento “Ayrton Senna Tribute 1994/2014” entre 30 de abril e 5 de maio. Parte da renda obtida com a venda de ingressos será revertida para os projetos sociais do Instituto Ayrton Senna, grande legado deixado pelo piloto.

O evento começou oficialmente na quarta-feira, dia 30 de abril, com uma missa em homenagem a Ayrton Senna e do austríaco Roland Ratzenberger, que perderam a vida no fim de semana do GP de San Marino de 1994, disputado em Imola. Inicialmente programada para o pit lane, a celebração religiosa teve de ser transferida para uma sala fechada nos boxes do circuito por causa da ameaça de chuva. Nem por isso os fãs deixaram de comparecer. O local ficou abarrotado. Os torcedores vinham de todos os lugares: Itália, Inglaterra, França, Chile, Malta… Todos não queriam perder um minuto sequer.

Quinta-feira, 1º de maio de 2014. O grande dia do evento. Mais de 20 mil pessoas lotaram as dependências do autódromo, segundo informações do Corpo de Bombeiros de Imola. As atividades começaram cedo, às 9h locais, com a presença de Paula Senna, sobrinha do tricampeão. Carros históricos de Ayrton Senna – destaque para as Lotus 97T (1985), 98T (1986) e 99T (1987), além da McLaren MP4/4 do primeiro título mundial (1988) – estavam expostos em um ambiente decorado com fotos de Keith Sutton, premiado fotógrafo inglês que acompanhou quase toda a carreira do piloto brasileiro. Um minicircuito com karts movidos a pedais divertia as crianças enquanto os pais assistiam às palestras com personalidades da Fórmula 1, como Giancarlo Minardi e Emanuele Pirro.

O ponto alto do dia, entretanto, ainda estava por vir. Por volta das 14h, a organização do evento abriu os portões que davam acesso à pista para o público. Um mar de pessoas invadiu os 4.909 metros em direção à curva Tamburello, onde foi realizada uma celebração em homenagem a Ayrton Senna. Vários pilotos marcaram presença. Companheiro de McLaren entre 1990 e 1992 e grande amigo do brasileiro, o austríaco Gerhard Berger lembrou os bons momentos ao lado do brasileiro. O espanhol Fernando Alonso e o finlandês Kimi Raikkonen, atual dupla da Ferrari na Fórmula 1, fizeram questão de comparecer à celebração, além, é claro, dos ex-pilotos como Andrea de Cesaris, Jarno Trulli, Pierluigi Martini, Riccardo Patrese e Emanuelle Pirro, todos contemporâneos do tricampeão na maior categoria do automobilismo.

Conduzido por Don Sergio Mantovani, considerado o “Capelão dos Pilotos”, o público rezou o “Pai Nosso” em plena curva Tamburello. Na sequência, às 14h17 locais (hora exata do acidente em 1994) foi prestado um minuto de silêncio seguido de uma longa e arrepiante salva de palmas. Aos gritos de “Olê, olê, olê, olá, Senna, Senna”, o público ovacionou Ayrton. Ao fim, a banda marcial encerrou a cerimônia com o Hino Nacional Brasileiro. Depois de toda a emoção, a diversão: o Nazionale Piloti, time de futebol dos pilotos, disputou uma animada partida contra a seleção da Ferrari no Estádio Comunale Romeo Galli, localizado na parte interna do circuito. O resultado? 3 a 0 para o time vermelho, em uma partida de nível técnico duvidoso.

Na sexta-feira, a forte chuva que caiu na região de Emilia-Romagna afastou um pouco o público, mas as atividades não cessaram. Uma corrida chamada “Kart Memorial Senna 2014” foi disputada em uma pista improvisada na reta dos boxes do circuito. Foram mais de 12 horas de atividades, com a corrida principal sendo disputada no formato de endurance: mais de sete horas ininterruptas. No fim do dia, a sala de imprensa do autódromo teve a projeção do premiadíssimo documentário Senna, do diretor inglês Asif Kapadia.

A chuva voltou a comparecer no sábado, penúltimo dia de evento. Os fãs, entretanto, voltaram a comparecer em peso para presenciar alguns momentos emocionante. Dois carros marcantes na carreira de Senna voltaram a entrar na pista: o Porsche 956 que o brasileiro dividiu com o francês Henri Pescarolo e com o sueco Stefan Johansson na disputa dos 1.000 quilômetros de Nürburgring em 1984 e a Lotus-Renault 97T da temporada de 1985 da Fórmula 1. Foi com este carro que Senna ganhou sua primeira corrida na maior categoria do automobilismo, no GP de Portugal daquele ano, em Estoril. Por coincidência, também debaixo de muita chuva. Ele foi conduzido na pista pelo milionário suíço Fredy Kumschick, atual proprietário do carro.

Último dia do “Ayrton Senna Tribute 1994/2014”, o domingo em Imola foi marcado por uma corrida de bicicletas no traçado do circuito de Imola. Com uma distância total de 100 quilômetros, elas deram cerca de 20 voltas na pista. No fim, vitória dos italianos Claudio Costabile – entre os homens – e Barbara Pavani – entre as mulheres. Além da prova, o autódromo e a cidade de Imola foram palco de um desfile de carros antigos. O evento foi encerrado com a abertura da pista para os torcedores fazerem suas últimas homenagens neste fim de semana tão marcante para a história do automobilismo.

20 anos depois do fatídico acidente na Tamburello, os feitos de Ayrton Senna na Fórmula 1 ainda estão na memória dos torcedores. Mas o mais impressionante mesmo nestes cinco dias de evento foi ver a presença de muitas crianças e adolescentes. Gente que não pôde ver as corridas do brasileiro ao vivo, mas respeitam o mito e sabem o valor que ele teve para o esporte e para a vida de seus pais. Cinco dias que marcaram a vida de muita gente. Assim como Senna é parte importante da vida de quem acompanhou ao vivo suas corridas.