Ayrton Senna sempre exaltou seus tempos no kart, lembrando com bastante carinho da principal categoria de base do automobilismo em que foi vice-campeão mundial por duas oportunidades, em 1979 e 1980. E, mesmo antes de chegar à F1, seu nome já era o de uma lenda no kartismo mundial, como foi relembrado por seus rivais em entrevista ao Senna TV, que reuniu em um bate-papo os pilotos Renato Russo, Walter Travaglini, Maurízio Sala e Ricardo Gracia (também promotor do Mundial de Kart no Brasil em 2021).

Confira o bate-papo completo no link abaixo:

Tricampeão brasileiro de kart, Travaglini teve Ayrton como aluno em sua escola de pilotagem em Interlagos. O experiente piloto, inclusive, relembrou da dedicação de Senna desde os primórdios de sua carreira. “A vida dele era corrida. Ele andava a semana inteira de kart sem parar”, contou Travaglini.

“Eu dava aula às terças-feiras, então eu alugava o Kartódromo de Interlagos (que hoje chama Kartódromo Ayrton Senna). Mas não tinha uma terça-feira que ele deixava de ir e ficava o dia inteiro andando, fora os treinos normais. Então, ele se dedicava demais, a vida dele era corrida e ele tinha essa facilidade. Então ele tirava proveito de tudo que ele fazia”, completou.

Com experiências em torneios de F3 na Europa, sete participações em 24 Horas de Le Mans e rival de Senna no kart, Sala acompanhou de perto a evolução do brasileiro nos tempos de kart.

“Ele era muito arrojado, no começo ele batia demais porque ele era muito arrojado. Depois veio a determinação e a dedicação. Acho que a dedicação depois de um ou dois anos que ele estava correndo, que ele começou a se dedicar cada vez mais ao kartismo. Como ele era uma pessoa muito introvertida, o mundo dele era aquele lá. Não tinha amigos fora daquilo, talvez ele tivesse alguma amizade na escola ou alguma coisa, mas ele vivia para aquilo. Então ele acabou ficando muito introvertido, arrojado e aí começou a dedicação dele em cima do kart”, diz Sala.

Atual eneacampeão brasileiro de kart, o piloto Renato Russo também teve experiências ao lado de Ayrton na pista e se inspirou no estilo mais “agressivo” do ídolo, que vinha muito da pilotagem exigida para aquela geração de kartistas.

“São coisas que eu fui me espelhando nele (Senna) também, tanto chuva quanto essa parte de ser muito agressivo. Lógico que às vezes eu forço a barra, mas hoje em dia eu estou mais suave. Mas a agressividade vem daquela época porque você tinha que ser agressivo naquela época do kart. Porque não tinha proteção, não tinha nada. Então toda ultrapassagem você tinha que colocar mais de lado e tal. Então eu venho dessa geração que é um pouco mais ‘agressiva’”, diz Russo.

Russo segue na ativa, está entre os grandes nomes do kartismo nacional até hoje e relembra a superioridade que Senna tinha para os pilotos da época, o que justifica muito do sucesso do brasileiro no restante da carreira. “Teve um Brasileiro em Goiânia que ele chegou atrasado, exatamente por causa do equipamento que demorou. Ele ia correr na categoria 100. E aí os pilotos se uniram e falaram assim, ‘ó, aqui você não vai correr, aqui não, você chegou atrasado, não pode fazer inscrição’”, conta.

“Os caras ficaram discutindo lá e ele falou, ‘é o seguinte então, eu faço inscrição e largo em último, nem tomada de tempo eu faço’. Os caras falaram, ‘então, beleza, você larga de último’. O cara (Senna) largou de último, acho que tinham uns 17, 18 karts mais ou menos. Ele passou todo mundo, tirou o pé (de propósito), foi lá, passou todo mundo de volta e falou, ‘está bom para vocês assim ou não’. O cara era problema (para os adversários)”, completa Russo.

Além disso, o Mundial de Kart está marcado para acontecer no Brasil em 2021. Entre os dias 28 e 31 de outubro, o Speed Park, em Birigui (SP), receberá o torneio e terá homenagens especiais a Senna, conforme revela Ricardo Gracia, proprietário do kartódromo.

“A gente se mobilizou para trazer, fomos até a Europa buscar o Mundial para cá, homologamos a pista do Speed Park. E aí a pergunta que veio no momento foi assim, vamos pedir para a FIA que a gente quer fazer uma homenagem ao Ayrton no Mundial e a gente gostaria muito que o troféu dos campeões fosse o Troféu Ayrton Senna. Que fosse a estátua do troféu que já tem o busto, na verdade o corpo todo do Ayrton”, diz Ricardo.

“E a gente foi pedir essa autorização para a FIA. A FIA nunca autorizou fazer um troféu dessa forma e por incrível que pareça foi autorizado. Isso lá na Suíça, foi pedido na reunião e para nós foi um orgulho muito grande. Foi fantástico porque é um pouco do que a gente pode devolver para o Ayrton de todo o prazer que ele deu para nós nas manhãs de domingo”, completou.