A torcida esperava grandes feitos de Ayrton Senna em Detroit. O piloto vinha de uma grande vitória em Mônaco três semanas antes e já tinha vencido nos Estados Unidos em 1986, também com a Lotus. Conhecido pelo talento em pistas de rua, Senna estava confiante para o final de semana, mas desde os treinos vinha reclamando do forte calor que fazia na cidade americana.

“A pele do rosto, por exemplo, fica seca e vai queimando. E não há jeito de se evitar isso”, dizia aos jornalistas brasileiros presentes ao Grande Prêmio de Detroit daquele ano.

Na luta por décimos de segundo, Ayrton testou um novo aerofólio traseiro no primeiro treino oficial, menor que o tradicional. Após o bom desempenho, a peça foi aprovada pela equipe e foi usada na classificação e na corrida.

Tanto na sexta-feira quanto no sábado, Ayrton ficou com o segundo melhor tempo. No treino decisivo, o brasileiro cravou 1min40s607 e conquistou o direito de largar ao lado de Nigel Mansell da Williams, que acabou vencendo o brasileiro na luta pela pole position – em 1987, a supremacia do conjunto Williams Honda era evidente.

Após o classificatório, Senna estava mais tranquilo com relação ao calor que passava dentro do carro, já que os mecânicos descobriram que estava entrando ar quente dos radiadores dentro do carro por causa de uma junção imperfeita do chassi.

Apesar de uma forte chuva que caiu em Detroit no sábado à noite e o tempo instável no domingo, a pista estava praticamente seca na hora da largada, tanto que os pilotos optaram por largar com pneus slicks. No início da prova, Mansell manteve a ponta, com Senna em segundo.

Mansell liderava a corrida, mas Senna pressionava o inglês. O piloto da Williams, então, decidiu fazer sua parada na volta 34. Mesmo sem precisar contar com a sorte, já que ultrapassaria o inglês de qualquer forma com a parada do adversário, Ayrton ainda teve uma “ajuda” dos mecânicos da Williams, que não conseguiram parafusar a roda traseira direita com rapidez, e o britânico ficou 18 segundos parado nos boxes.

Com a liderança tranquila, Senna conseguia poupar os pneus com maestria. Por isso, decidiu apostar em uma tática ousada. Ao contrário dos outros 26 pilotos, manteve-se na pista sem novos pneus e livrou a vantagem necessária para completar as 63 voltas na ponta. Uma aposta audaciosa que poderia render como prêmio sua segunda vitória na temporada.

Senna contrariou a lógica, que apontaria aquele erro da equipe Williams como uma oportunidade para fazer o seu pit stop e ainda voltar na ponta.

“Agora seria a hora de parar. Hora de fazer uma boa troca e ainda voltar na ponta”, disse Galvão Bueno, narrador da TV Globo, quando Mansell demorou para sair. Mas Senna ainda permaneceria mais 30 voltas sem parar – não fez nenhuma até a bandeirada.

A diferença para Mansell após o pit stop do britânico era de 21 segundos e Ayrton não se preocupou em apenas administrar a vantagem. Começou a fazer volta mais rápida atrás de volta mais rápida. A última, na volta 39, foi em 1min40s464, a melhor da prova.

Sem poder competir com o ritmo de Senna, Mansell começou a sentir câimbras e foi ultrapassado nas voltas finais por Nelson Piquet, Alain Prost e Gerhard Berger, que completaram os quatro primeiros, todos com um pit stop.

No fim, Senna cruzou a linha de chegada com 33 segundos de vantagem para Piquet e, juntos, repetiram o feito que haviam conquistado também em 1986: duas dobradinhas consecutivas para o Brasil. Em 1987, foram duas vitórias de Senna com Piquet em segundo, em Mônaco e Detroit. No ano anterior, o mesmo havia acontecido na Alemanha e na Hungria, mas com vitórias de Nelson.

Essa foi a segunda vitória de Ayrton Senna com o motor Honda em um intervalo de três semanas. Na volta de desaceleração, Senna repetiu o gesto do ano anterior em Detroit, quando pela primeira vez ergueu a bandeira brasileira dentro de sua Lotus.

“Acho que quem me deu a bandeira foi o mesmo torcedor, pois peguei a bandeira no mesmo lugar”, disse o novo líder do campeonato. O piloto da Lotus tinha 24 pontos, contra 22 de Prost e 18 de Piquet.